Matéria interessante da revista Piauí sobre uma eleitora carioca/fluminense, pra lá de representativa (não deixem de seguir também alguns dos links disponibilizados na matéria, com outros dados interessantes):
IMAGEM: PAULA CARDOSO/ACERVO PESSOAL
O Tao e a Tal da Política - O Retorno
Retomo aqui, em novo formato, meu velho espaço de troca de idéias sobre política, Brasil, futebol, música e (quase) tudo o mais que me mobiliza. Para leigos, bem informados, colegas, alunos, amigos e amigas em geral.
domingo, 27 de maio de 2018
sábado, 26 de maio de 2018
Do balcão à chantagem
É curioso o debate em curso sobre a natureza e a
legitimidade do movimento dos caminhoneiros, sobre a sua organização e
composição: são motoristas "autônomos" ou "massa de manobra de
empresários oportunistas"? Trata-se enfim de uma greve ou de um locaute?
Como se tudo em jogo se resumisse, para além de tecnicalidades jurídicas sobre greves
e sua legalidade, a uma só questão moral: em função de uma ou outra
característica, deve-se apoiar ou condenar o movimento?
A que ponto chegamos em matéria de moralismo e de patrulhismo....
Eu que sou um sujeito profundamente desinformado,
confesso que não faço a menor idéia sobre tal natureza e composição do
movimento ou suas proporções internas. Nem faço tanta questão de saber. Para
mim já é bastante desafiador observar e refletir sobre a eficácia da mobilização,
seus impactos sobre a população, seus desdobramentos e significados políticos,
mais ou menos imediatos.
Não que o acesso a informações um pouco mais profundas
e fidedignas sobre o caso seja algo desprezível. De fato, o caráter
aparentemente restrito das reivindicações – em especial a isenção dos impostos
sobre o diesel – poderia nos levar a facilmente endossar uma visão unilateral
do processo. Mas aí pode bem ser o caso de estarmos nos deixando levar não só
pelo maniqueísmo geral reinante, mas também pelo oficialismo e pelo caráter
unidimensional da cobertura midiática contemporânea padrão, que, ao invés de
explorar a realidade do setor e das condições de trabalho dos caminhoneiros, e
toda a sua possível pauta, muitas vezes (com raras exceções) prefere centrar
sua atenção naqueles aspectos, ou detalhes em que se pode melhor explorar e
repercutir as reações do governo e das demais instâncias de poder envolvidas –
e, é claro, verbalizar as preocupações mais imediatas dessa entidade nada
metafísica que chamamos de “mercado”, assim como dos presumíveis impactos
gerais do movimento na já combalida conjuntura econômica nacional.
Mas aonde se consegue informação consistente e
confiável hoje, sobre qualquer tema, mais ou menos urgente ou polêmico?
Parafraseando o mote da hora: como poderemos nos abastecer de insumo tão
essencial? (Admitamos que aqui a carência possa ser tão grave quanto em vários
outros setores...).
Não. É preciso aprender a se guiar nessa floresta sem
bússola (ou Google Maps).
Por isso, partindo do pressuposto banal de que é
absolutamente corriqueiro que em "sociedades abertas" e em regimes
(ao menos aparentemente) democráticos, classes, corporações e grupos de
interesse se organizem e dêem largas a seus interesses e ambições – mais ou
menos míopes ou predatórios –, com os meios à sua disposição, e cabendo,
afinal, às instituições, ao próprio mercado político, e à virtude política dos
atores lidar e, se possível, limitar os eventuais efeitos danosos de tais
miopias, interesses e ambições inevitáveis, abro mão de qualquer juízo de valor
sobre a greve (ou locaute) – como se isso fizesse, realmente, alguma diferença
–, e me concentro nos seguintes pontos, mais ou menos óbvios do enredo: 1)
seria simplesmente ridícula, se não fosse trágica, a impressionante fragilidade
dos sistemas de abastecimento de tantos itens essências ao pleno funcionamento
de serviços básicos em nossas cidades e campos (tão ou mais trágico saber que
graças à nova “ordem”, tão cedo não teremos qualquer condição efetiva de lidar
com esse e outros graves problemas e déficits infra-estruturais); 2) por outro
lado, sejam quais forem os seus meandros, lideranças, interesses e recursos
envolvidos, parecem ser dignas de nota as capacidades de organização,
comunicação e mobilização da categoria; numa época em que se faz tanta apologia
romântica do espontaneísmo e da “autenticidade” na atuação política coletiva,
valeria à pena conhecer um pouco mais sobre como se deu a preparação de tamanho
nó nas nossas estradas e vias de acesso; 3) quanto às manifestações mais ou
menos politizadas e radicalizadas, do próprio movimento, ou de sua recepção, à
direita e à esquerda, nada de muito novo (pelo contrário); ainda mais diante da
atual polarização hegemônica e da nova "normalidade"; 4) finalmente,
não vou me ater às várias dimensões da atuação do governo federal e suas
instituições – leia-se a Petrobrás e a base da Situação no Congresso – antes e,
(por enquanto) durante o processo. Não tenho mais paciência para repetir o que
quase todo mundo já sabe (mesmo que não admita) sobre essa “administração” e
seus “princípios”. Quero apenas chamar a atenção para o fato igualmente óbvio
de que não pode ser surpresa para ninguém que uma coalizão notável pelo modo
como escancarou as portas e os balcões do Planalto para todo o tipo de lobby, em troca de apoios, agora se veja
forçada, em momento de crise, a abrir mão de fontes de arrecadação
significativas, acuada – se não exatamente chantageada – pelo primeiro grupo,
ou grupos de interesse, capaz(es) de mobilização, fora dos corredores e canais
oficiais, e aos quais seguramente menosprezou em sua soberba e arrogância
típicas (ambas cultivadas generosamente em dois anos de impunidade; tanto
política quanto jurídica).
Resta esperar pelos próximos capítulos e seus
desdobramentos. E inclusive saber que precedente pode ter sido aberto pelo
atual entrevero dos caminhoneiros com os síndicos do nosso condomínio.
sábado, 12 de maio de 2018
quarta-feira, 28 de março de 2018
As eleições do medo (ou, o medo das eleições e o voto avestruz)
Não faz assim tanto tempo e se comemorava, entre nós,
a vitória da esperança sobre o medo.
Hoje nada parece capaz de impedir, nas próximas
eleições, o trágico triunfo oposto: o do medo sobre a esperança (e também sobre
qualquer racionalidade política embasada na História desse país, e de algures,
ou em diagnóstico minimamente consistente sobre nossa realidade atual).
Não é para menos.
Aquilo que muitos ainda teimavam em conceber como desvio
mais ou menos circunscrito ou passageiro – ou seja: a violência constituinte de
nossa sociedade e o caráter rigorosamente hobbesiano do “Estado de Natureza”
espalhado e renitentemente reproduzido por tantas áreas de nosso território –
agora se apresenta cada vez mais desembaraçadamente como algo muito mais
profundamente enraizado, pervasivo e duradouro. E em tal contexto, não pode
mesmo surpreender o apelo de promessas drásticas e simplistas, como se os
problemas fossem fáceis de resolver, e algumas das soluções propostas para eles
não embutissem riscos e problemas ainda maiores.
Seria adequado, pois, qualificar esse tipo de anseio,
ou aflição, em busca de salvação imediata, e a qualquer preço, como esperança?
Afinal, quem entre nós, brasileiros, pode hoje se dar
ao luxo de cultivar qualquer otimismo digno desse nome? Quem pode estar seguro
de suas boas razões para escolher, consistentemente, uma das opções que se
apresentem como candidaturas ou plataformas, no sentido de nos tirar desse poço
de areia movediça em que fomos lançados? Quem pode sequer ter confiança de que
uma vez conhecido o veredicto das urnas, isso nos permitirá contar, a partir de
2019, com algo que possa ser chamado de governo efetivo, dotado de meios e
programas conseqüentes, e também capaz de se sobrepor a eventuais e previsíveis
tentativas de contestação de resultados eleitorais, sabotagens parlamentares,
judicialescas, ou midiáticas, ou, pura e simplesmente, novos e inusitados
golpes?
É claro que estamos diante dos efeitos sumamente
perversos – e cansativamente previstos e denunciados por muitos, com triste
antecedência – do processo de desestabilização política e institucional posto
sistematicamente em movimento no Brasil, com as conhecidas cumplicidades e
apoios mais ou menos conscientes, desde que se abriu a famosa caixa de Pandora
das novas cruzadas moralistas, há pouco mais de uma década.
Mas agora é tarde. A jovem princesa – também conhecida
como "democracia" – é morta (tudo bem; vamos dar uma chance aos otimistas
de plantão: digamos então que ela ainda não morreu; se encontra em coma, em
estado vegetativo, e respirando por aparelhos – resta saber quem controla esses
últimos....). E se confesso não enxergar saída fora das eleições, tampouco me
convenço de que mesmo na melhor das hipóteses – ou seja, a vitória da melhor
escolha possível – haveremos de ter condições institucionais de ver no futuro
imediato as presumíveis conseqüências positivas de um tal resultado.
De qualquer modo, nada parece ser capaz de deter o movimento
inegavelmente espasmódico e ressentido com que de um modo ou de outro, se
caracterizará um provável e significativo contingente de votos, impulsivamente condenado
a apostar em ofertas eleitorais mais ou menos imprevisíveis, radicais ou
temerárias (com duplo sentido, por favor). E isso numa demonstração muito menos
de qualquer expectativa positiva mais sólida ou palpável – com relação a esta
ou aquela escolha –, do que, muito mais, uma pura e simples manifestação inútil
de descrença raivosa, na ausência de qualquer perspectiva positiva.
Em suma: diante do triste espetáculo que nos foi
legado pelos aprendizes de feiticeiro do golpe, há grande chance de assistirmos
em outubro o momento triunfal do que poderíamos chamar de voto avestruz: diante
de um cenário tão desalentador, enterra tua cabeça no chão e vota.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
O candidato dos sonhos (ou, mais um capítulo da mal-afamada série, "an establishment in search of an outsider")
"Anything
goes..."
(Cole
Porter)
A enrascada em que os apoiadores do golpe de 2016, em
especial os moderados, se meteram pode ser compreendida melhor, à medida que
avançam as especulações sobre candidaturas à presidência da República para o
pleito deste ano, em torno do seguinte problema: o candidato dos sonhos das
oligarquias tem de ser alguém totalmente palatável ao chamado establishment,
e, ao mesmo tempo, um outsider da política.
Ou seja: alguém que possa tranqüilizar as oligarquias
e seus vassalos nos setores mais conservadores e reacionários das classes
médias e inferiores, mas que pareça não estar contaminado pelo jogo político
institucional – exatamente a arena onde hoje as oligarquias exercitam sem peias
(que não a própria competição interna a elas) o seu poder predatório.
Daí o nervosismo à cada nova pesquisa de intenção de
voto – com ou sem Lula, com essa ou aquela plêiade de concorrentes –, e o
assanhamento e a angústia em torno de nomes "novos", como os de
"celebridades", ou recém-entronizados paladinos da justiça, ou ainda
tecnocratas supostamente acima de qualquer suspeita (partidária, é claro).
Tanto faz.
O que importa é achar logo algum "poste" que
se coloque competitivamente – e principalmente graças à sua inconsistência
política e partidária – num ponto central mais ou menos eqüidistante das
extremas (ou nem tão extremas assim), à esquerda e à direita. Que, como já
dissemos antes, tendem se não a propriamente seduzir
"ideologicamente" as maiores parcelas do eleitorado, e, talvez, a
liderar as futuras pesquisas de intenção de voto, certamente deverão seguir polarizando
o debate, tornando ainda mais inconsistente qualquer tentativa de articulação
de um discurso de "centro" – num contexto geral já inteiramente
radicalizado (e sem nenhuma perspectiva séria de descompressão a curto ou médio
prazo). E com tudo tendendo a fazer do próximo pleito o mais incerto e imprevisível
desde 1989.
O dilema traduz, em primeiro lugar, a versão
tupiniquim da tendência política e ideológica global que, em outros contextos
já foi chamada (creio que impropriamente) de "populismo
plutocrático": conversa fiada moralista e pseudo-econômica para engrupir e
mobilizar levas de neófitos, ressentidos e preconceituosos, mas igualmente
perfeita para alavancar policies e
"reformas" talhadas de encomenda para rentistas e outros espertalhões
(às custas dos mesmos ressentidos e preconceituosos, inclusive).
Aqui em Pindorama acredito que a melhor definição seja
outra: antipoliticismo udenista primário. Quer dizer, indignação seletiva,
obsessiva e praticamente exclusiva com corrupção no (e do) setor público, desprezo
ignorante da política, dos partidos e dos políticos profissionais – mas acima
de tudo do povo que os elege –, crença messiânica na pura vontade e anseio
infanto-juvenil por salvadores da pátria dotados do inefável pedigree moral e
técnico-elitista para resolver autoritária e cientificamente os problemas
nacionais. Em suma: uma receita infalível para escolhas equivocadas e
insatisfação garantida (e sem o seu dinheiro de volta!).
Mas não nos iludamos. Para além da arenga moralista,
autoritária, eventualmente pseudo-liberal e moderninha que anseia pelo
candidato puro-sangue se esconde a mesma fonte e beneficiário final: as
poderosas minorias que, aqui ou alhures, tem interesse na manutenção indefinida
do status quo social, ou pior: anseiam por retrocessos lucrativos e
imediatos.
Por outro lado, o traumático passado recente, o
elevadíssimo grau de imprevisibilidade institucional produzido a doses maciças de
oportunismo político míope, em meio a anarquia judicialesca fatal – cujos
capítulos mais recentes tivemos o desprazer de testemunhar no último 24 de
janeiro, mas que vem se desenrolando entre nós, ininterruptamente, há muitos
anos – inevitavelmente cobram o seu preço, atingindo, de um modo de outro, a
credibilidade de todas as instituições. Cumprindo-se enfim a profecia construída
por décadas de moralismo e denuncismo midiático irresponsável: a longa noite em
que todos os gatos – leia-se, as instituições, os partidos e agentes políticos
– se tornam pardos, e não reste mais nada à turba desencantada e desencontrada
do que ansiar pelo milagre e seu correspondente messias.
Mas calma... Nem tudo está perdido (nos dirão
sofregamente os arautos e especuladores do "et plus ça change...", do alto de seus think tanks, em
seus editoriais ou artigos de opinião acolhidos nas velhas tribunas da
"ordem" e do "progresso"...).
Afinal, se não houver outro jeito, sempre se pode
contar, menos entusiasmadamente, com os quadros mais confiáveis da velha
política oligárquica. Como, é claro, em primeiríssimo lugar, os tucanos: sempre
tão modernos, elegantes e impolutos – mesmo quando flagrados em evidente
desconforto digestivo no corpo-a-corpo das campanhas, ou envoltos em enredos
nebulosos, de fatais bolinhas de papel, surrupio de merenda escolar, ou
concorrências públicas marotas, a helicópteros que desaparecem na calada da
noite (ou melhor dizendo: surgindo esporadicamente e submergindo rapidamente
nos labirintos da cobertura jornalística imparcial que pontifica em nosso
país).
Ou ainda melhor (ou pior): quem sabe até o governo
temerário não pode ele mesmo parir o seu próprio poste de confiança?
Afinal, chegamos a tal ponto de desfaçatez e vale-tudo
que até algum campeão nacional de impopularidade tem o direito de sonhar: por
que não eu?
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Lula, o Brasil e o espelho
Durante muito
tempo, mais precisamente até 2002, acreditei que Luís Inácio Lula da Silva
nunca seria eleito presidente do Brasil. Com base nas três disputas
presidenciais que ele havia perdido até então, minha teoria era bastante
simples: Lula jamais seria eleito porque ele era bom demais para isso. Demais
para que uma boa parte do Brasil pudesse suportar.
Ou seja: Lula
representa (e sempre representará) um exemplo de sucesso.
Um cara que
veio de uma das regiões mais pobres do país, superou todo o tipo de
dificuldade, mal teve oportunidade de estudar, mas aprendeu uma profissão e
construiu com esforço uma carreira, tornou-se líder sindical de uma categoria
profissional organizada e numerosa, em setor crítico da indústria nacional,
enfrentou pacifica e pragmaticamente uma ditadura em defesa dos direitos e
interesses dos seus companheiros trabalhadores, e, por último, mas não menos
importante, fundou e liderou o maior partido de massas da história política
brasileira. Em suma: o homem já tinha um portfólio invejável quando se tornou
nacionalmente conhecido como o principal desafiador dos poderosos candidatos do
establishment nas três primeiras eleições presidenciais pós-ditadura.
Ora: quem
nesse país possui trajetória comparável? Quantos se alçaram comparativamente
mais alto, ou foram mais longe, pelo próprio mérito e esforço (como gostam de
repetir os hipercorretos importadores de pseudovalores estrangeiros e
bajuladores de "celebridades")?
Quem pode se
mirar nessa história – nesse exemplo, ou espelho – e não se admirar (ou se
incomodar)?
Num país marcado
até a medula pela escravidão, tão cruel e mesquinho com a massa de despossuídos
e desprivilegiados, e ao mesmo tempo tão pusilânime e condescendente com
privilégios dos bem-nascidos, dos apaniguados, apadrinhados,
filhinhos-de-papai, etc., quem consegue, de fato, se comparar? Sejamos francos:
perto de uma trajetória vitoriosa como a de Lula, somos tantos de nós, na
melhor das hipóteses, uma legião de amadores em matéria de capacidade de autorrealização
pessoal, ou promoção da própria mobilidade social ascensional.
Mas eis então
que esse arrogante imigrante nordestino, sem formação superior, cometia a
suprema ousadia de querer nos governar?! E o que é pior: prometendo trabalhar no
governo justamente para combater a miséria e promover a inclusão econômica e
social de milhões como ele?!
Já não bastava
ter de encarar o constrangimento de uma comparação com tais realizações
pessoais? (ainda mais para algum filho das classes abastadas, ou médias – e que
apesar de choramingar e invejar os ricos, mal se dá conta de estar no topo da
pirâmide social desse país campeão mundial de desigualdade –, inclusive com
todas as oportunidades de estudar em bons colégios e universidades?).
E ainda se tem
de aturar o sujeito e seu partido no poder por mais de uma década!? Com essas
políticas "populistas" de renda mínima, microcrédito, acesso à
energia elétrica e habitação popular? Pior: bolsas universitárias, abertura de
novas universidades públicas, cotas para minorias?!
E com o
aplauso de tantos Chefes de Estado, analistas e interlocutores internacionais?!
Chega! É dose!
Em que mundo estamos!? (Que se arranje logo um jeito de desqualificá-lo...
talvez algum deslize típico de ascendente social, ou... melhor! Algum sinal,
mesmo que torto ou fabricado, de ilicitude e desvio de conduta!! Perfeito!!)
Pois é.
A verdade,
portanto, é que eu estava redondamente enganado.
Primeiro,
porque Lula ganhou em 2002 (e, suprema impertinência, bisou em 2006 e, de
quebra ainda fez a sucessora). Mas também porque é óbvio que minha simplista
hipótese, ou melhor, intuição psicologética, era muito pobre e limitada para
dar conta da compreensão adequada de uma eleição presidencial nos dias de hoje.
E existem teorias muito mais interessantes e rentáveis para entender os
resultados de 2002, ou de quaisquer outros pleitos.
Seja como for, passados todos esses anos, e tantas
águas por baixo da ponte, e vendo agora o esforço ansioso e sistemático para
impedir, novamente, que esse mesmo teimoso e impertinente brasileiro sequer
tenha a chance de conquistar mais uma vitória – lembrando não só o que Lula fez
na presidência, mas também como o fez (e sem menosprezar as óbvias razões
maiores, de ordem programática e ideológica, que hoje se articulam contra seu
possível retorno) –, ainda assim não resisto a perguntar: que imagem mais ou
menos distorcida (ou talvez excessivamente fiel e implacável) é essa que certo
Brasil enxerga quando se mira nesse espelho?
sábado, 13 de janeiro de 2018
Do grau de investimento aos graus de esquizofrenia (ou, de um rebaixamento a outro)
Seria cômico se não fosse trágico: de acordo com urgente
cobertura jornalística da política nacional pelos nossos veneráveis veículos de
"opinião", não apenas causa mal-estar junto aos nossos olímpicos
gestores e à refinada platéia que os adula e inspira, a notícia do rebaixamento
do grau de investimento do Brasil, por um desses oráculos inquestionáveis do
mercado financeiro global, como também gera imediata troca de gentilezas entre
ansiosos candidatos a campeões eleitorais do "governo" e de sua pauta
"reformista" para as próximas eleições presidenciais. Afinal, segundo
o novo consenso geral, foi por conta do adiamento da tal reforma da previdência
que levamos o pito internacional. E aí sobra culpa e reclamação para todo lado
da ínclita coalizão.
Como mudou este país!
Quem, em tempos idos, sequer consideraria a hipótese
de se aventurar como candidato a presidente de um governo que ostenta recordes
em matéria de baixos índices de popularidade, acossado por denúncias e incapaz
sequer de nomear um ministro, ou ministra, sem causar arroubos de indignação
jurídica e incômodo generalizado? E quem levaria a sério tal, ou tais candidaturas?
Afinal, nem bem são passados trinta anos desde que o
mau desempenho de um governo (no caso, o de Sarney) simplesmente inviabilizou qualquer
candidatura governista, inclusive do então maior partido do país, e de uma
liderança como Ulysses Guimarães, ajudando a abrir caminho para a aventura
collorida (é verdade também que, depois da tragédia da não-posse de Tancredo,
os anos pesavam contra Ulysses; não foi à toa, aliás, que a maior parcela do
eleitorado de então não só preteriu nomes tradicionais da política, como também
preferiu, afinal, o candidato (supostamente outsider)
mais enérgico e jovial de todos; deu no que deu...).
Sem querer fazer aqui qualquer maldade – comparando,
por exemplo, a biografia e a estatura política de Ulysses com a dos ilustres
candidatos a candidato do "governo" – fico, porém, me perguntando: o
que leva a tamanho assanhamento eleitoral por parte de quadros tão
umbilicalmente comprometidos com administração tão impopular, e em defesa de um
ideário e de um programa rigorosamente antinacionais e antipopulares?
Descartando-se a hipótese possível, mas não provável,
de que outros objetivos políticos que não exatamente a manutenção do controle
sobre o Planalto guiem, na verdade, tais candidaturas, só resta uma (trágica)
explicação:
O atual rebaixamento do Brasil foi precedido por
outro, bem mais grave e difícil de recuperar.
De democracia emergente e objeto de estudo e admiração
de observadores externos, graças ao golpe consumado em 2016 e ao conseqüente
desmonte de tudo aquilo que, mal ou bem, representava o que havia de melhor em
matéria de welfare state tupiniquim,
fomos não somente subitamente rebaixados, no plano institucional, à condição de
republiqueta de bananas, como social e economicamente retrocedemos ao nível de
colônia de exploração neo-escravagista para negociatas ruinosas e especulação
desenfreada.
Daí não só o servilismo com que se recebe e se
reprocessa a notícia do grau de investimento em queda. Mas acima de tudo a
atenção esquizofrênica dada às ansiedades e rusgas de candidatos cuja relevância
política e partidária só encontra paralelo nas contribuições positivas que
certamente deixarão como legado histórico de sua passagem pelos altos escalões
dirigentes deste abençoado país.
Em suma: em matéria de rebaixamento, esse de agora é
fichinha (e vistos na perspectiva histórica adequada, até os 7x1 ficaram
baratos).
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